Na noite de 14 de Novembro
estava em minha querida Buenos Aires. Mesmo sendo um autentico Catalão, Buenos
Aires é um dos lugares no mundo em que me sinto mais perto de casa. Passando
pelo centro percebi um cartaz em um hotel que logo me intrigou onde dizia o
seguinte: “Precisa-se de Navegador, não é necessário ter experiência na área,
mas ter disponibilidade para viajar pelo mundo”
Não hesitei , fui conversar
com a recepcionista do hotel no qual o cartaz estava colado. Ela me informou
que o Comandante estava hospedado no hotel. Contudo, ele teria ido dormir, pois
havia acabado de chegar de uma viagem. Logo me preparei para aquela que poderia
ser a oportunidade da minha vida. Eu estava um pouco sujo, não tinha muito que
comer aquela noite só carregava comigo uma mochila. Dentro dela havia um livro
que ganhei do meu falecido pai e um diário no qual sempre rabiscava alguns dos
meus sonhos a fazer acontecer. A recepcionista muito simpática me ofereceu um
pouco de água e um prato de comida, não tive como resistir. Creio eu que ela
ouviu os monstruosos “roncos” da minha barriga. Enquanto eu comia conversávamos
um pouco sobre como era trabalhar em um hotel, planos de vida. Foi quando fomos
interrompidos por um casal de brasileiros que chegava para se hospedar, após
isso resolvi tirar um cochilo já que estava perto de amanhecer e eu não poderia
desperdiçar a oportunidade, sempre soube que o bonde da sorte só passa uma vez
e eu preciso estar preparado para entrar nele, mas nesse caso seria o avião da
sorte.
Quando ouvi uns barulhos na
escada acordei assustado olhei para a recepcionista que estava em um profundo
sono, então vi um homem alto, forte com um lindo chapéu e uma roupa de aviador
passando muito rápido, percebi que ali estava a minha oportunidade. Corri em
direção a ele que parecia um pouco atrasado fui logo falando: “Capitão.” Na
primeira vez ele não me deu bola e então fui mais firme “Capitão!” Ele olhou
para mim, um pouco desconfiando, mas não perdendo a pose continuou andando e
perguntou.
- Quem é você?
- Dom!
- Prazer, Comandante Arthur Machado. O que te traz
aqui, filho?
- Vi o cartaz na parede, não resisti. Pode ser
uma grande oportunidade na minha vida, não tenho muita experiência na área, mas
já fiz alguns cursos e acho que me encaixo bem na oportunidade.
Ele me olhou de cima a baixo e disse:
- Não era muito o quê esperava, mas posso te
fazer algumas perguntas?
Eu mal conseguia o acompanhar, ele estava com
passadas longas e o frio mal me deixava raciocinar, mas fui firme:
- Sim. Claro que pode.
- O que significa viajar, para você? Quando você
se olha no espelho, quem você enxerga?
- O meu pai! Respondi
Ele retrucou com um ar de ironia:
- Quem foi seu Pai, filho?
- O homem que me ensinou a ser um sonhador...
Ensinou-me que o tempo não para. Por mais que hoje em dia seja um tempo difícil
para os sonhadores, não há porque desistir dos seus sonhos e objetivos.
Obstáculos existem em toda parte e, às vezes, a gente tem que perder pra
perceber o que tínhamos. Mas isso não quer dizer que sua vida tem que parar.
Podemos fazer a diferença para alguém e nem percebermos. Só precisamos estar
vivos... Então quem sabe hoje eu faça a diferença para alguém, não é mesmo?
O capitão parou me encarou
alguns minutos. Pude perceber a pupila dos olhos grandes e castanhos dele
dilatando de uma tamanha indeterminação, senti um pouco de medo. Mas pude
perceber no canto da sua boca um leve sorriso que foi acompanhado da seguinte
frase:
- Seja bem vindo a tripulação do Vôo da
Madrugada. Vamos temos muito trabalho a fazer, filho...
Saudações,
Navegador L. Sparrow