domingo, 6 de outubro de 2013

Poema Avulso: Varal de Estrelas

A noite desvelou o seu manto,
que confunde em cores, em tons e matizes,
do profundo, do azul
tingido de oceano
de canções e de poesias
que vislumbra o pálio aberto.

Eu em meu canto,
calmo e quieto,
cão que se aconchega
à sombra da figueira
nas horas cálidas do dia,
estendo meus olhos à janela
de onde a brisa do tempo
faz voltas de vento sobre casas azuis.

Em meu vãos pensamentos
passantes sobre o mar
de velhos e sábios marinheiros ,
estendo na vasta campina,
de ponta a ponta,
desde a relva à duna,
o meu parco varal de estrelas.

Roubas uma a uma,
penduradas e seguras
em prendedores de sonhos,
lá estão:
milhões e milhares de estrelas,
bailando, nas colinas do sono,
do sabor e do cheiro,
em mim,
onde fui, e serei,
eterno e outra vez menino.

Comte. A. Machado

terça-feira, 9 de julho de 2013

Poema Avulso: Vitis vinifera


Doce o serenar
da noite que caiu
sobre o grandes verdes vales
donde os vinhedos desnudam
bagas de purpura cor.

Deixando-se percorrer
por entre as curvas de teu corpo,
perfeitas vinhas,
as mãos do vinheteiro
decifram os galhos, as folhas, os cachos.

Eis que senti explodir
aroma de intensa safra frutada,
como bebida nova em odres novos,
conheci em teus taninos
tuas harmonias.

Vinho que preenche,
encorpado escorre dos lábios,
de lágrimas e reflexos:
o pleno rubim.

Degustei-te
qual enólogo que apura os sentidos.
Expeli-te, sem se quer deglutir,
pois da bebida,
ainda que nela se possa embriagar,
da vinha, do vinho e de ti,
sustento apenas o paladar.

Comte. Arthur M.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Poema Avulso: Luzeiros do devir

Nas horas da noite
teus olhos rasgam o breu
o gesto: do incerto, do afeto, secreto.
Crescem em cor e fulgura,
quais luzeiros em par
de grosso pavio fumegante
inflamam o peito ardendo em dores.

Nos minutos da tarde
tuas mão ensaiam em meu corpo
símbolos, mudras, figuras
marcam à régua e compasso
o traço perdido no espaço
de minha pele cálida.

Nos segundos da manhã,
teus lábios sussuram os versos
Veludo ou seda
em tons de púrpura ou carmim,
tuas palavras,
fogo sobre carvão,
o instante abrasador de mim.

E descendem do mais alto céu,
teus olhos de vigílias em milésimos,
que pões desde os vales além Tejo,
onde teu hálito sopra,
em minhas narinas
o doce odor de brisa do Lis.

Neste devir que se renova
no constante mover
de tuas mãos, teus olhos e lábios,
passa-se toda a minha vida:
manhãs, tarde e noites,
que embora sejam minhas,
são só, e apenas só, tuas.

Comte A. Machado

terça-feira, 30 de abril de 2013

Poema Avulso: Águas e Areia


Veja, a noite corre nos trilhos
e vagões correm pelos céus.
Nas asas do vento nada difícil:
Trens no ares, estrelas no peito.

O amor enovelou-se em teus braços,
caiu feito torrentes no Arizona,
derramou todo um oceano
no ser tão vazio em meu coração.

Inundou meu peito,
minha alma,
encharcou teu leito.
Me tomou inteiro,
pedra e areia,
Brotou em fontes
em meio ao abismo,
nos arbustos da seca mata branca,
rolando nos veios da terra, no árido.

Desfeito,
me pus nas praças,
becos e ruas.
Semeador de trovas,
nos barrancos dos rios
nos espinhos da caatinga.
Trovoei, chovi, derramei.
Eis, pois, aqui aquele
que  entrelaçado em mim o amor fez:
Teu aguadeiro em terras sedentas.

Comandante Arthur Machado









Poema Avulso: Lúgrubre

Caia
no beco
escuro
o medo
a dor
o jeito.

ofegante
cruzava
calçadas
carros
sinais
indolentes
motoristas

freio
freio
freio
estremeceu
ruiu
bateu
estrondo

Silêncio
...
...
...

Aqui jaz, Odete,
a vida que não viveu.
A moça que não foi,
tudo aquilo que nunca seria.


sábado, 26 de janeiro de 2013

Poema Avulso: De Longe


Te vi de longe,
Andando despreocupada.
Os cabelos soltos ao vento
E o olhar perdido no infinito.

Te vi de longe,
A lua dançava em teu rosto,
As ondas brincavam contigo
E as estrelas Iluminavam teu sorriso

Te vi de longe,
Não havia nada igual.
A orla se punha sozinha,
Só o meu canto ecoava no ar.

Te vi de longe,
Pairavas leve, sem passos.
Esgueirando-se pelas sombras
Escondida em si mesma.


Te vi de longe,
Caminhando em meus pensamentos.
Não sei se eras sonho,
Não sei se eras fantasma,
Ou a vontade de te ver existindo.

-Comandante Arthur Machado -
(14/07/09)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Poema Avulso: Simples Mistério da Alma

Teu sorriso,
simples mistério da alma,
conta dos sonhos,
das cores, das dores;
diz, singelo, que me queres
inteiro, certo, sem vícios.

Teu cheiro fresco,
madeira do oriente;
brisa do mar,
que pela planice passa,
me arrasta,
grão de areia e água.

Teus gestos,
profundos abismos.
Investem de seda a bruta pedra.
Compassam a respiração.
Me agarram,
entre pontas dos desdos,
os murmúrios do meu coração.

Comandante Arthur Machado


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Poema Avulso: Cancioneiro Voraz

Meu coração grande e voraz
quis conter teus sonhos, o mundo.
Devorou cada parte de tua história,
desfiou cada conta do teu imenso rosário.

Minhas palavras
Teu cancioneiro de confidências,
encontram em tua boca macia,
o gosto, o chão, o gesto, o teto.


Em meus olhos,
teu rosto é como a candeia
que se põe sobre a mesa:
Apaga as estrelas,
Acende a alma.


Comandante A. Machado


Poema Avulso: Som do silêncio.

Escrevo canções que nunca serão ouvidas,
não porque vozes não podem partilhá-las,
mas porque os corações já não mais escutam.

Canto surdo de beleza rara,
nele encubro o mundo de cor,
com a tinta barata.

Entoo um harpejo de perfeita harmonia,
para que traga de volta o brilho
que me complete a alegria:
O som do estribilho.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Poema avulso: Rima e meia!

Entre terras e países
Fronteiras se separam, se dividem.

Entre amores e paixões,
corações se despertam, se completam.

Entre o vós e o eu,
abismos se desvelam, se revelam.

A cruzar os ares,
A beber os mares,
Arrasto as redes
Destruo as paredes.

A pó e a giz,
Te fiz,
Nos refiz,
Me desfiz.

Comandante Arthur M.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Poema avulso: Sonhos


Sonhos, o que me basta sonhar;
Vivê-los como alma causticante;
Soltos, vagando nas sombras de galhos;

Vetustas bases para veredas-nuvens;
Rugem em vão algoz presença ausência;
Descontente com receio de um dia perdê-lo;
Mas ele cintila em meus olhos como reflexo d'água;
E muitas vezes cai alguma delas;
O espelho que permanece a face;

Enquanto ela resplandece em mim, o imaginarei ao meu lado;
Amigo que promove o atrito, para fiel equilíbrio;
A Energia andará entre meus pés, como um choque que é levado; Que ponha-se a água;
E mate-me;
Mate-me e só;
Trema-me a pó;

Ando, querido imaginário;
Não canso, ferindo-me;
Não descanso, se não sairei do ritmo afável;
É como um abraço, um braço, A mão;
Aquele anel nunca se perderia se eu o quisesse;
O abismo e ressaca tentam levá-lo;
Não permitirei, Jamais!

Aeromoça Christine Almeida

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Poema avulso: Imagética




O twitter no telhado cantarola aquilo que não se ouve,
enquanto notas musicais mergulham no poço quadrado e sem fundo.
No poço, quadrado e sem fundo, se deixam cair todas as ilusões.

Aquelas que se criaram ao passar pelas infinitas estantes
que em perspectiva se contruiram perfeitos três ângulos e lados
mas para além de estantes, cores e formas.

Há pessoas.
Pessoas que deitadas para não esquecer do sonho
abrem em livros portais de palavras
para a dimensão sem limite,
onde ponto, reta, plano, espaço e tempo
são apenas formalidades de lógica humana.

Aqui, nesse mundo que é real porque existe,
no mais secreto bailar de luz e sons,
vejo tudo aquilo que não se vê
e sinto tudo aquilo que não se sente.

Mas tudo se desfaz, no papel que agora amasso.
Sei que não é matéria o que preciso.
De tudo, quero e sou apenas sonho.

(Texto: Comte. Arthur M. / Imagem: Aeromoça Christine A.)

 Original post from Caixa de Verdades by Marcela Almeida

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cogitações da Aeromoça: Imensidões

Caros passageiros,
       Hoje devo surpreender-los dizendo que não contarei sobre os recentes acontecimentos que tenho passado com vocês em pleno voo. Porém, relatarei a minha pequena trajetória no Capão/Chapada Diamantina, durante as férias. São apenas algumas reflexões internas que fui desenvolvendo durante as trilhas, espero que gostem.

Senhores passageiros, tenham uma ótima viagem!
Lembrem-se: apertem os cintos de segurança e em caso de emergência, máscaras de palavras sempre cairão!
IMENSIDÕES 


BRASIL - CHAPADA DIAMANTINA - Em: SERRAS DO VALE DO CAPÃO - 19ºC - 14h37min


Isso aqui é muito mais do que imaginava! – Retruquei em meus pensamentos.

Quando subi a serra para observar as montanhas da Chapada fiquei imaginando como seria esta sensação, porém, agora posso dizer que tudo que assisto, ouço e sinto é incrivelmente inexplicável. 

Foi um pouco cansativo seguir a trilha para alcançar este lugar, tinha bebido bastante água, e também havia escorregado em algumas pedras e barro. Por incrível que pareça demorei exatamente duas horas para chegar aqui, e isso tudo proporcionou uma grande conversa com os meus pensamentos que se condensavam ao admirar cada flor, folha, pedra e chão. A arte que respira ao meu lado fazia o favor de cantar nos meus ouvidos e o seu cheiro e forma fez lembrar a minha infância. Eu conseguia ouvir a voz de minha mãe:

- Menina, saia já dessa varanda! Vai logo tomar o seu banho, porque eu tenho que ver se sobrou algum espinho em suas mãos! - Um breve sorriso transpareceu no meu rosto.

Desde pequena adorava mexer com a terra, e por isso minhas mãos ficavam cheias de espinhos das flores. Mas agora, que posso me cuidar sozinha, não ouço mais os gritos dela e por costume, confesso dizer que sinto falta disso.

Neste exato momento os meus olhos começaram a vagar nas montanhas e a sua atuação era como a própria fênix em pleno voo, que ao seguir o seu rumo se queimava ao morrer por cansaço da velhice, para posteriormente renascer ainda mais belo e pleno. Neste meu mundo, agora cursa a saudade e a sua imensidão.

Fui em direção às plantas e com um movimento circular comecei a tatear sentindo cada linha de textura da folha.

- Mas que aperto no peito! – Cogitei em voz alta

Tudo isso oferece para mim uma maravilhosa nostalgia suprema, que apenas poderia ser quebrada por uma coisa: A fome! Rapidamente larguei a folha e abri a minha mochila para revistar o que tinha dentro dela. Lá se encontrava a minha garrafa, que por sinal a água já estava no fim, algumas barras de cereais, duas maçãs, um papel toalha dobrado e acessórios para me ajudar na trilha. Eu optaria por barra de cereais, mas como proporcionava sede e tinha pouca água para me ajudar na condução da volta, por falta de opção sugeri pegar aquela humilde maçã que implorava para ser mordida.

-Venha, sua linda. – Falei sozinha novamente

Fui procurar uma pedra mais alta, logo que a encontrei me apoiei nas pedras menores e sentei, dei a primeira mordida na minha maçã, e rapidamente uma trilha sonora passou em minha mente:

“Me resolvi por subir na pedra mais alta, pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta... Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto, olhos feito pérola, cabelo feito manto... O medo fica maior de cima da pedra mais alta, sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta...” 

Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?


[CONTINUA...]



Aeromoça Christine Almeida.

domingo, 2 de setembro de 2012

O homem no tempo: A chuva. (Crônica)


Salvador, 31 de agosto de 2012.

Senhoras e  senhores passageiros,

    A vida nas grandes cidades passa a cada dia mais e mais rápida, ao passo de não percebermos as miudezas que se afogam na rotina e que se entranham nas paredes e muros de pedra e cimento que com mãos abertas construímos. 
Exatamente num dia igual a qualquer outro no calendário, exceto pelo fato de ser infinitamente março, caminhava a multidão sem nome. Pelas ruas enladeiradas fui subindo e descendo penando nos afazeres que havia deixado para a volta. De surpresa senti o peso molhado de um pingo cair sobre meu braço e despertei das ideias em que me meti. Assim, uma após a outra, milhares de gotas caiam e logo era uma tempestade de fim de verão. As pessoas nas ruas corriam desesperadamente feito formigas que tontas procuram abrigo, ou talvez, uma arca como se o próprio dilúvio  estivesse por desaguar. Continuei até ouvir o ronco de o primeiro trovão retumbar forte no meu peito até doer. Olhei para os lados e procurei uma marquise e, do mesmo jeito que as formigas, me escondi.
Enquanto esperava a trégua dos céus, um homem continuou seu caminho. Ele e seu guarda-chuva preto desciam a rua como se tudo não fosse mais que o sereno da noite. Fiquei inquieto com a situação. Ele parecia ignorar, voluntariosamente, todos os olhares ao redor, desprezando as regras sociais que impedem um sujeito normal de caminhar na chuva torrencial. Agora minha inquietação já era quase raiva diante do contrassenso. Quem aquele homem achava que era? Acaso estaria ele em Hollywood para bancar o Gene Kelly e sair dançando em plena chuva? Resolvi olhar para o lado e esquecer. Pensei dizer-lhe umas boas verdades, daquelas que palavras têm o som de espadas em campo de batalha. Desisti. Talvez o irracional naquilo tudo fosse eu. Quis sorrir das circunstancias como os garotos bobos do outro lado da rua que com o dedo em riste apontavam e riam-se em largas gargalhadas, mas o que ele havia feito era imperdoável. Como alguém pode atirar verdades. em seco, sem usar  um único verbo? Cada passo que dava me dizia “covarde, tem medo dos olhos alheios”; “não tem coragem. É chuva, e só!”; “Fraco, eu sei que você queria estar no meu lugar”.
O homem sumiu de vista, a chuva começou a cessar e aos poucos as pessoas apressavam-se em mover para, novamente, voltar a ser a multidão sem nome, mas com olhos, ouvidos, bocas. Tomei a condução no mesmo ponto de sempre e fui em direção ao dia-a-dia. Agora, bem, agora espero outra chuva cair e, para o desdém do homem, fugir pelas aleias estreitas sem guarda-chuva ou capa. Só espero cair, cair, cair e outra vez gotas caírem.

    Espero que tenham tido uma viagem agradável e que a cada dia aprendamos a beleza dos dias brancos de chuva.

Cordialmente, 
- Comte. Arthur Machado -

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Poema Avulso: Infinito de Tudo.


O mar,
Grande infinito de tudo,
Deitou-se em minha cama.
Teceu-me de água e espuma
Lençóis de renda branca
Para o colchão de amar.


E tudo em volta fazia-se par,
Como uma breve ressaca de almas
De um leve pulsar no silencio
Que buscavam seus timbres
E jeito preciso de se encontrar


Os sonhos,
Imenso vão de vida
Nas teias do tempo,
Recostaram em meu leito
Desenharam em minha pele,
Tatuagem de cor e luz
Que meus olhos ainda esperam ver.

(Comte. Arthur Machado e Aeromoça Christine Almeida)

 Original post from Caixa de Verdades by Marcela Almeida

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Poema avulso: Prosa Poética.

Roubaram o tempo.
Nas cidades os ponteiros diziam sempre a mesma hora, a Terra interrompeu seu giro. Tudo os que vive parou. Apenas as máquinas não sentiram aquele breque: as rodas das biciletas seguiram seu eixo, os aviões continuaram sua rota, o pão assava, os rádios tocavam a canção do dia. Mas meu coração continuou a bater, cruzava ruas, descia ladeiras, escalou os altos morros de teu afeto. Lá naquele lugar, onde as núvens tocam o chão, ele te viu passar pela primeira vez. Agora, silêncio. Apenas seu som ecoava como bateria em desfile de carnaval, cada pulso um tambor, e cada tambor todo um universo, infinito, mas que não se expandia, não crescia porque não há tempo. 
Em tuas mão estava o tempo. Como gatuno que se esguira no breu da noite, tu o tomastes. Sem mais, o coração sentiu teu toque e, de repente, cada batida é um segundo, uma hora, um dia, a eternidade. Tudo retomou seu compasso. As garças abriam suas longas asas, o casal no pedalinho, o jornal a ser escrito. Você dobrou a esquina, entrou pelos becos e vielas e eu, eu continuei meu caminho como um barco só que vai no rio pelas corredeiras de pensamentos.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Poema Avulso: Linhas das mãos.

Nos pontos de luz que vejo das alturas
desenho figuras precisas:
A gaivota que corta os ceus,
a nau que abre  a vela.
Linhas em mais perfeita simetria.

A criança,
até esquecida de si,
estende nos varais da vida
colchas e lencois
coloridos de sonhos,
bordados de infancia.

O homem,
velho de todo,
desfia na antirroda do tempo
retalhos de lembranças.
Botões de vento
em casas de pó.

Traçados em mapas,
sem escala nem precisão
sigo as rotas de cartas
nunca inventadas: 
Quero a vida na palma das mãos.

(Comandante A. Machado)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Poema avulso: Veredas e Varandas


Nas veredas de teus sonhos
Corre a galope
O mais profundo dos teus desejos
Daquilo que sabes
De ser inteiro e mudo,
Daquilo que sentes:
Ânsia da vida.

Pelas varandas de tua alma
Baila sem segredos     
Teu ímpeto
De ser homem,
ser menino.
De por os pés na terra
E olhos nos céus.

Na soleira de minha história
Você passou e ainda passa.
De tuas mãos que cortam o vento,
De teus lábios que luzem fogo
que tocam aquilo que és:
 Eu.

(Comandante A. Machado)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Poema avulso: Papeis do (m)ar.

Na beira da praia sentei
e na areia, branco-papel pronto para caneta e tinta
Debulhei cada grão de mim.
Letra por letra te escrevi como quem pinta
te compus como quem descansa.

Cabelos de vento
Corpo de sol.
Mas o coração,
Nem de pedra, nem de sal.
Água e maré.

Aos poucos o vento desperta do sono de brisa.
Suas asas tremulam papeis e sonhos:
aqueles que a proprio punho  imaginei,
estes que de noite a noite escrevi.

As cartas que na areia rabisco
como gaivotas alcançam o céu.
Enquanto a espuma apaga palavras
Deixo-te ali no canto da onda em forte vaga.

O ar, meu destino e porto, reclama o leme, o timão
Parti, meu amor, naquele tempo
para, outra vez,  voar
de  verso e prosa nas mãos.

(Comte. A. Machado)




terça-feira, 29 de novembro de 2011

Viagem 002

Rota: São Paulo - Itália
Data:13/11/2011 
Caros passageiros,
Confesso que hoje o trabalho foi um pouco cansativo, nós tivemos alguns problemas antes da decolagem do nosso avião, mas com calma e união conseguimos resolver tudo. Infelizmente o nosso piloto desmaiou alguns minutos antes do voo, isso acarretou num efeito dominó, e a culpa, como sempre, caiu sobre nós. Alguns de vocês eram impacientes, outros reclamavam e os que tinham pavor passaram mal. Foi um conflito que parecia eterno, eu estava desesperada e tentava acalmar vocês que também não estavam bem, era de uma essência irônica em que apenas eu conseguia ver. Enquanto o piloto era socorrido, pedi para que vocês  mantivessem a calma, se dirigissem ao lado de fora do avião e aguardassem dentro do aeroporto, não poderíamos prosseguir com um piloto desmaiado em nossa cabine, então, uma nova equipe de tripulantes foi convocada para seguir voo e o nosso avião seguiu viagem, após 2 horas. Durante a ida para Itália nós recebemos notícias que o nosso capitão conseguiu se recuperar e aparentemente estava muito bem, ele pilotará o próximo avião que levará todos para Buenos Aires e irá descansar um pouco por lá.
Senhores passageiros, a minha vida foi corrida hoje, e sei que a de vocês com certeza é mais do que a minha...Mas eu acho que vocês poderiam compreender o nosso lado também. Fazemos de tudo pra agradar à todos, e pedimos perdão pelo ocorrido, se fossemos robôs só precisaríamos de óleo para manutenção, tudo seria mais fácil. 
Parando pra pensar... Realmente nós somos um robô humano? Se vivêssemos mais nós enxergaríamos a poesia em cada gesto mudo e em cada filete de vento que percorre o nosso rosto. Ser capitalista demais às vezes faz mal.



"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti..."

(Mário Quintana)

Lembrem-se: Apertem os cintos de segurança e em caso de emergência, máscaras de palavras sempre cairão!

Aeromoça Christine Almeida

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O PORTADOR DE SONHOS! (Parte I)

Na noite de 14 de Novembro estava em minha querida Buenos Aires. Mesmo sendo um autentico Catalão, Buenos Aires é um dos lugares no mundo em que me sinto mais perto de casa. Passando pelo centro percebi um cartaz em um hotel que logo me intrigou onde dizia o seguinte: “Precisa-se de Navegador, não é necessário ter experiência na área, mas ter disponibilidade para viajar pelo mundo” 
    Não hesitei , fui conversar com a recepcionista do hotel no qual o cartaz estava colado. Ela me informou que o Comandante estava hospedado no hotel. Contudo, ele teria ido dormir, pois havia acabado de chegar de uma viagem. Logo me preparei para aquela que poderia ser a oportunidade da minha vida. Eu estava um pouco sujo, não tinha muito que comer aquela noite só carregava comigo uma mochila. Dentro dela havia um livro que ganhei do meu falecido pai e um diário no qual sempre rabiscava alguns dos meus sonhos a fazer acontecer. A recepcionista muito simpática me ofereceu um pouco de água e um prato de comida, não tive como resistir. Creio eu que ela ouviu os monstruosos “roncos” da minha barriga. Enquanto eu comia conversávamos um pouco sobre como era trabalhar em um hotel, planos de vida. Foi quando fomos interrompidos por um casal de brasileiros que chegava para se hospedar, após isso resolvi tirar um cochilo já que estava perto de amanhecer e eu não poderia desperdiçar a oportunidade, sempre soube que o bonde da sorte só passa uma vez e eu preciso estar preparado para entrar nele, mas nesse caso seria o avião da sorte.
Quando ouvi uns barulhos na escada acordei assustado olhei para a recepcionista que estava em um profundo sono, então vi um homem alto, forte com um lindo chapéu e uma roupa de aviador passando muito rápido, percebi que ali estava a minha oportunidade. Corri em direção a ele que parecia um pouco atrasado fui logo falando: “Capitão.” Na primeira vez ele não me deu bola e então fui mais firme “Capitão!” Ele olhou para mim, um pouco desconfiando, mas não perdendo a pose continuou andando e perguntou.

- Quem é você?                                                    

- Dom! 

- Prazer, Comandante Arthur Machado. O que te traz aqui, filho?

- Vi o cartaz na parede, não resisti. Pode ser uma grande oportunidade na minha vida, não tenho muita experiência na área, mas já fiz alguns cursos e acho que me encaixo bem na oportunidade.
Ele me olhou de cima a baixo e disse:

- Não era muito o quê esperava, mas posso te fazer algumas perguntas?

Eu mal conseguia o acompanhar, ele estava com passadas longas e o frio mal me deixava raciocinar, mas fui firme:

- Sim. Claro que pode. 

- O que significa viajar, para você? Quando você se olha no espelho, quem você enxerga?

- O meu pai! Respondi 

Ele retrucou com um ar de ironia:
- Quem foi seu Pai, filho?

- O homem que me ensinou a ser um sonhador... Ensinou-me que o tempo não para. Por mais que hoje em dia seja um tempo difícil para os sonhadores, não há porque desistir dos seus sonhos e objetivos. Obstáculos existem em toda parte e, às vezes, a gente tem que perder pra perceber o que tínhamos. Mas isso não quer dizer que sua vida tem que parar. Podemos fazer a diferença para alguém e nem percebermos. Só precisamos estar vivos... Então quem sabe hoje eu faça a diferença para alguém, não é mesmo?

O capitão parou me encarou alguns minutos. Pude perceber a pupila dos olhos grandes e castanhos dele dilatando de uma tamanha indeterminação, senti um pouco de medo. Mas pude perceber no canto da sua boca um leve sorriso que foi acompanhado da seguinte frase:
- Seja bem vindo a tripulação do Vôo da Madrugada. Vamos temos muito trabalho a fazer, filho...

Saudações,

Navegador  L. Sparrow